15 de novembro de 2011

Tago Mago - Can






"Take a light shining on the land,
off the wall, Up and down, free everything, what you feel is all gone. You can make everything what you want with your head, You're OK and be aware everywhere with your mind...
You just can't give them no more."
(Paperhouse)

"Imagine uma luz brilhando na terra, fora da parede... Pra cima, pra baixo, tudo está livre, o que você sentia já passou. Você pode fazer tudo o que quiser com a mente. Você está bem mas fique atento com sua mente... Você só não pode mais se dar pra eles"
(Paperhouse)


Espécie: Krautrock/Rock Psicodélico

Data: 1968-1979

Pescadores afirmam terem revisto o peixe em 1989 e em 1991

Natural de: Colônia, Alemanha.

No cardume: Gong, Amon Düül e Tangerine Dream
 

Eu era um cotoco quando ouvi Santana pela primeira vez. Estava na casa da minha madrinha... Entre peças de ceramica e quadros a Salvador Dali... talvez tivesse um insenso aceso .... e o Santana, acho que era um VHS .... 

Provavelmente estava na idade de comecar a reter imagens na cabeça ou a música me deu um momento mais lucido, nao sei, mas aquilo tudo ficou misturado em uma só lembrança: a ideia de um mundo magico, paralelo, de seres mais superiores ainda do que os adultos, ou pelo menos, de seres mais compreensiveis e proximos, e por muito tempo, sem saber, eu busquei ter aquela impressão de novo.

Acho que foi isso que me encantou quando, vou tentar ser cronologico, conheci Nash, Still e Young atraves de um professor de ingles e com o tempo, passei a perambular entre Emerson, Lake and Palmer, King Crimson e os fantásticos do Gong...

Nada daquilo parecia fazer parte do nosso mundo e eu, nessa epoca com 14 anos, epoca onde o mundo já não parece mesmo grande coisa, gostei daquela sensação.

Redescobri Pink Floyd (meus pais tem uma coleção de LPs do Pink, que sempre foi proximo de mim), redescobri um canto do mundo tão essencial no começo da adolescencia, um canto onde eu não precisava ser lucido, responsavel, serio: em frente ao computador, pesquisando musica... 

E pesquisando musica, eu conheci, não antes de muito texto, de muito procurar, de muito ligar referencias e referencias, o melhor de  todos esses mundos doidos: Can










Músicas:

1. Paperhouse
2. Mushroom
3. Oh Yeah
4. Halleluhwah
5. Aumgn
6. Peking O
7. Bring Me a Coffee or Tea



30 de setembro de 2011

Concerto para piano No 2, em Lá Maior - Franz Liszt




"Ela deu um suspiro profundo, como se quisesse dizer que ele não estava tentando compreender.
- O jogo é fingir, é fazer os movimentos da vida, mas não é para viver.
- A escola é a vida.
- Não. - Rynn balançou a cabeça com tanta força que foi preciso afastar dos olhos os longos cabelos. - A escola é ter pessoas lhe dizendo o que é viver, sem deixar que você descubra por si mesmo.
- Mas é preciso ir à escola.
- Para quê?
- Para aprender alguma coisa.
- Tais como...?
- Ler e escrever, e...
- E eu não sei ler, eu não sei escrever?
- Muito bem, porque seu pai lhe ensinou. E o que diz de quem não tem um pai como o seu?
- Alguma vez me referi a outra pessoa, além de mim mesma? Se você gosta da escola, tanto melhor para você.
- Exceto que eu não acredito que você esteja dizendo o que pensa.
- Por que teria eu de querer que todos fossem iguais a mim, quando eu não quero ser como todo mundo?"

(A menina no fim da rua)



Espécie: Música Clássica/Romantismo

Data: 1811-1886

Natural de: Doborján, Reino da Hungria 

No cardume: Johannes Brahms, Franz Shubert e Frédéric Chopin


Sim, eu vou pro inferno por misturar Joy Division com Chopin mas é isto mesmo, estou falando sobre música clássica e apesar de parecer uma péssima idéia, pelo menos até este momento, não me arrependi.
O fato é que já passamos um pouco pelo cinema no post do "Jackie Mittoo" e hoje é a vez da literatura, que atraves do livro " A menina do fim da rua" de Laird Koenig, me mostrou que a música classica pode ser interessante quando descobri, no meio do mundo surreal da garota Rynn, o gênio Franz Liszt.
Quem entende diz que uma grande diferença entre o conto e o romance é o momento em que o autor "joga sua carta mais alta" e fisga o leitor: o conto deve faze-lo de imediato (Machado de Assis que o diga) já o romance pode faze-lo aos poucos, de susto em susto, de passagem a passagem."A menina do fim da rua", se seguirmos esse criterio, com certeza é um conto.

Numa narrativa tensa, sutil, sincopada e essencialmente não só visual, mas sensorial , Laird Koenig nos embala pela historia fascinante e excitante de uma menina que, planejou com o pai, consciente de ser portador de uma doença terminal, uma realidade fantástica e surreal e que apos a morte deste, se esforça para manter, convencendo a todos de que o pai ainda mora com ela na casa. O cinismo, puro, original, inteligente sempre me atraiu (a quem não atrairia?), e é pra mim hoje um sinonimo de Rynn, a menina, que com uma leveza e clareza surpreendente, passa o enredo tentando manter seu mundo planejado, magico protegido dos adultos.

Tá, leiam o livro, agora voltando aquela ideia da música clássica, vamos ter que voltar um pouquinho na história, coisa pouca, lá pelo Brasil-Colônia... então concentrem-se:

Alem do talento inato, Franz desde pequeno recebeu a melhor educação em músca e apesar de segundo ele ter sido as apresentações periodicas dos ciganos sua maior influencia, desde pequeno viveu cercado das melhores influencias musicais posssiveis que sua familia, sem grandes posses, podia oferecer.

A real era que o pai de Franz, Adam Liszt, tinha sido obrigado a encerrar seus estudos de música na juventude e mesmo depois alcançando algum prestigio, no geral, era um músico mais ou menos frustrado, ou seja, mais cedo ou mais tarde, quando o pequeno Franz sentou no piano pra ver que merda que eram aquelas listras brancas e pretas, seu velho ficou louco, passou a mandar carta pra todos os Playboys, principes, burgueses da epoca pra conseguir pagar os estudos de música do filho e Franz nunca mais desceu daquele banquinho.

Assim passou por Carl Czerny, Antonio Salieri e foi parar no Conservatorio de Paris. Bom, vou parar de falar de nomes que não m dizem nada, estou pisando em um terreno desconhecido aqui então antes que eu fale mais merda vamos ao que interessa:

Em 1840, periodo considerado ainda longe da sua "maturidade musical", Franz Liszt compos Concerto para piano No 2. A peça ( haushsuas... não sei se esse é o termo certo) foi escondida por quase 20 anos, sendo interpretada pela primeira vez apenas em 1857, pelas mãos justamente daquele a quem ela foi dedicada, o aluno prodigio Hans von Bronsart.

Nas palavras de quem entende, Concerto para piano No 2 é uma peça bem menos extravagante e virtuosa que a No 1 mas apresenta uma profunda originalidade tanto na forma já que apesar de ser um Concerto para piano, o piano não parece conduzir arrogantemente a peça como era o costume mas apenas sugere as linhas mudando levemente o tema, como nas suas linhas inovadoras, independentes de qualquer movimento ou tendencia da época.

Nas palavras de quem não entende, eu, Concerto pra piano No 2 é uma dos únicos representantes da música clássica que eu consigo ouvir com frequencia primeiro por, como os criticos disseram, ela não ter geral, um tom extravagante e pretensioso mas também por ela não ser repetitiva, não ser fechada, autoritaria tendo várias pausas e vacilos que te deixam viajar e realmente sentir a música. Acho que Concerto pra piano No 2 ( putz.. preciso abreviar esse nome) é justamente aúdivel, e era isso que eu queria dizer até agora, porque a peça não parece querer contar uma historia, não tem temas gerais que te sugerem sentimentos concretos: raiva, tristeza, alegria, mas parece desumanizada, alheia, aberta e principalmente porque aquelas linhas estridentes de violinos no geral ficam em segundo plano, perdem pros graves violoncelos, pro sopro e isso é bom, acho aquelas linhas de violino muito irritantes.

Então é isso meu, tá servido?: Concerto pra piano No 2, em Lá Maior com Sviatoslav Richter no piano e a Orquestra Simfonica de Londres sobre a regencia do maestro Kyril Kondrashin de fundo. Um peixe exótico hein !






Músicas:

Concerto pra piano N°2, em Lá Maior dividido em 4 andamentos distintos

(É, voces não sabiam mas eu fiz 5 anos de teoria musical na ULM/Emesp, não é bagunçado assim não bixo)

1. Adagio sostenuto assai - Allegro agitato assai
2. Allegro moderato
3. Allegro deciso - Marziale un poco meno allegro
4. Allegro animato



15 de julho de 2011

Transa - Caetano Veloso



Espécie: MPB/Tropicalismo 
Data: 1942-
Natural de: Santo Amaro da Purificação, Bahia, Brasil 
No cardume: Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão e Maria Bethânia

Fiquei sabendo deste peixe ha um tempo atras, uns meses antes de começar o blog, atraves de um professor de literatura meu (WTF?). Pois é, o rolo é que a materia estava comecando com uma revisao da literatura brasileira, estavamos estudando um dos primeiros periodos literários que, mesmo com a proibicao da imprensa e o caramba, teve gracas ao jeitinho brasileiro, uma versão com um "tapa tupi": o Barroco. E no meio da coisa toda, inevitavelmente o professor chegou ao poeta Gregorio de Matos e nos passou uma ficha com um dos seus poemas mais fortes:

Triste Bahia
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
(Gregório de Mattos)


Até ai tudo bem, tudo dentro do normal mas a historia começa com o que veio depois: a faixa também chamada “Triste Bahia” de um dos álbuns mais obscuros de Caetano, Transa que hoje trago aqui. Que tesão! Eu não estava esperando, sei La meu, era uma aula de literatura! E aquele foi um momento realmente único. Quem baixou ou já ouviu Triste Bahia sabe, a música é gritante, estrondosa, bem experimental e longa, bem longa, resumindo: foram 10 minutos incrivelmente longos e constrangedores pra maioria dos meus colegas, enquanto três ou quatro, incluindo eu, se comunicavam sem palavras, olhares ou gestos.
É assim mesmo, ninguém nasce sabendo falar, ninguém nasce sabendo ouvir.... e eu me incluo ai, até hoje não consigo assistir os filmes do Allen ou do Kieslowski. Mas enfim na época eu ja tinha conhecido Creedence, Vangelis, Phillip Glass, já tinha perdido o prepúcio e compreendi muito bem o momento desta experiência, a lógica estrondosa da reciclagem do poema de Gregório, que apontava a decadência econômica de Salvador para o momento ditatorial que o Brasil vivia quando o disco foi lançado. E tempos depois, graças a esta experiência achei e compreendi o poema de Proust da primeira publicação aqui do Peixaria, pedra filosofal do blog.


As pessoas se perguntam porque a música popular brasileira tinha tanta qualidade, tanto conteudo na época da ditadura mas a resposta é obvia: corpos estampando os jornais de domingos, amigos sumindo, estudantes assaltando banco, se armando nos campos, não tinha como soltar um "Sou o seu bizerro cantando mamãe" toda hora. Eles cantavam "Calice", "Chame ladrão!", " Cai um Rei de Espadas" e Caetano não fez diferente, gritando "Mas as pessoas da sala de jantar" e assim como outros foi preso, sim, a música Terra é forçada pois ele deve ter ficado dias na cela, mas ele foi mesmo preso e depois, exilado para... Londres.
Estamos no ano doido de 1969: Caetano Gil, Londres... aquilo devia ser um fuzuê danado mas não deu nem tempo pra encarar aquela droga que eles chamam de culinaria inglesa: o rosbife! e Caetano conseguiu permissão para retornar ao Brasil pra assistir a missa comemorativa dos 40 anos de casados de seus pais, um rolo assim.
O fato é que em agosto de 1971, Caetano pegou o avião, desceu em solo tupiniquin e claro, já começou a desorganizar. Tocou, destocou, mandou tocar e no meio de tudo, indo bater o cartão no barraco dos milico deu que foi convidado pelos próprios para homenagear a Rodovia Transamazonica, umas das maiores cagadas dos verde-oliva, em uma nova música.
Quem entendeu já ligou: eu não sei qual foi a resposta do baiano mas parece que ele resolveu...uhum...aproveitar a inspiração dos milicos porque em 1972, já de volta ao Brasil, muito malandro, Caetano trouxe na mala este album que penduro hoje: Transa.
Como se quisesse reparar a visão melancolica de uma Londres chuvosa, esnobe e fria que Caetano deixara no album Caetano Veloso, gravado alguns meses antes, Transa, gravado ainda em Londres, no ano de 1971, mantem um tom agitado, experimental, refletindo uma cidade em plena explosão cultural.
Transa, apesar de ser considerada pela critica como uma das 10 maiores obras da MPB, elogiada por sua incrivel riqueza musical, só de relance: citando Gregorio de Matos em "Triste Bahia", Monsueto Menezes em "Mora na Filosofia", puxando um Beatles em "Nostalgia", e fechando com chave de ouro: reverenciando o Reggae, muito antes de qualquer um que você ja tenha ouvido falar (como ele gosta de enfatizar), em "Nine Out of Ten"... talvez ofuscada pelo Tropicalismo (movimento musical no qual Caetano iria se envolver mais tarde) é uma pérola pouco conhecida até pelos proprios fãs do cantor baiano, mas que vale a pena ser conferida.






Músicas:

1. You Don't Know Me
2. Nine Out of Ten
3. Triste Bahia
4. It's a Long Way
5. Mora na Filosofia
6. Neolithic Man
7. Nostalgia

Baixar.

30 de maio de 2011

Catch a Fire - Bob Marley & the Wailers



Bob Marley foi definitivamente a melhor coisa dos anos 70 disse, num momento raro de humildade, Caetano Veloso. Eu só tenho que concordar, alem de foda, Bob foi muito importante concretizando as revoluções libertadoras dos anos 60 e a contra-cultura mundo afora: o Movimento Rastafari, hoje com mais de um milhão e meio de adeptos, o Reggae, infiltrado no meio do Pop, do Rock e do Eletronico em todos os cantos do globo, os Dreads, que pela mão de Gil figuraram até nos minesterios e... a Maconha, hoje permitida em paises como Alemanha, Argentina e Holanda alem de descriminalizada em 12 estados norte-americanos não seriam a mesma coisa sem esse figura. Este post é uma homenagem a esse puto: há 30 anos atras Jah ficou com saudades e mandou buscar o filho de volta.

"Um dia vou morrer, afinal todos irão morrer, vão me enterrar, um fazendeiro muito louco vai me adubar e me transformar em um lindo pé de maconha. Só assim poderei saber que mesmo depois de morto continuarei fazendo sua cabeça! (Bob Marley)


Espécie: Reggae


Data: 1945-1981


Natural de: Nine Mile, Jamaica.


No cardume: Peter Tosh, Bunny Wailer e Jimmy Cliff

Assim como a primeira postagem aqui da Peixaria foi uma lembrança aos 30 anos do suicidio do grande Ian Curtis, eu decidi neste post, homenagear outro peixe grande que não aguentou trocar a paz e o amor da revolução sexual e cultural pelos punks anos 80: Bob Marley. É, pra este não posso inventar nada, esta mais disseminado que atum, e sua linhagem musical (ocasionalmente também sanguinea) também é extensa, só de fisgada: Gilberto Gil, Funkstar De Luxe, Jorge Ben Jor, Eric Clapton e... Rihana (preciso tomar cuidado com o que eu falo, vai que aparece).

Dificilmente vou traze alguma coisa nova (como fiz no post do War, nossa aquilo deu trabalho), a historia do cara ta mais passada que as de "um Goraz enorme que no ultimo instante escapou" ( é, to estudndo os treco malandro, ta achando o que...) mas enfim, vamos tentar sair da mediocridade...

Robert Nesta Marley nasceu no povoado de Nine Miles, no centro-norte jamaicano. Bob teve um começo dificil, seu pai, Norval Marley, um militar branco, capitão da Marinha Real Britânica, abandonou Cedella, mãe de Bob, apenas um dia depois do casamento. Filho e mãe, na confusão com apenas 17 anos, aprenderam a amadurecer e sobreviver juntos e o menino cresceu muito apegado a mãe.
Com os bicos de cantora que Cedella conseguia e os soldos mensais que o pai mandava, Bob passou seus primeiros 10 anos tranquilamente, correndo entre as plantações de milho, pulando na cachoeira do Rio Dunn em Ocho Rios, dormindo ao relento, como canta na musica “Talkin’ Blues”, tudo mais ou menos dentro de uma vida pobre mais agitada de um garoto do campo, tudo pelo menos até a morte de Norval, em 1955.
Bob não sentiu muito a morte do pai, se lembrava que uma ou meia vez por ano um senhor branco (Norval tinha 50 anos quando se casou com Cedella) aparecia na casa e lhe dava uma bola ou um soldadinho de chumbo, cenas confusas mas que se diluem fácil no mundo mágico de um garoto de 10 anos, o que Bob não conseguiu esquecer facil foram as consequencuas que
essa morte trouxe pra jovem familia Marley. Sem o dinheiro que Norval mandava, se manter no campo se tornou insustentavel, Cedella teve que tentar a vida na capital, no mesmo ano da morte do pai Bob se mudou com a mãe pra um yard ( quarto e banheiro) do governo no favelão de Trench Town, versão jamaicana da Cidade de Deus. O contraste entre os milharais, os canaviais, os 20 casebres de Nine Miles ( ainda hoje com apenas 300 habitantes) e os barracos de aluminio, o esgoto buscando seu curso entre os panelões de arroz com ervilhas e terreiros de futebol foi chocante para Bob que demorou para se adaptar a violencia diaria da cidade: sofria preconceito por ser mulato, por ser baixo e por ser do campo, todos os males
que ele depois cantou em suas músicas.
Toda aquela rejeição aliada a adolescencia fez com que Bob buscasse a música como uma forma de expressar e de provar seu valor, sua igualdade, até que em 1962, junto com Peter Tosh e Bunny Wailer, seu amigo de infancia e com quem compartilhava uma meia irmã ( Pearl, fruto do relacionamento de Cedella com o pai de Bunny), Bob fundou o The Wailers.
Como citei no post do Jackie Mittoo, o talento nem sempre é suficiente e na Jamaica amigo,esse fato se afirmava com crualdade. Mesmo tendo conseguido, em 1965, lançar seu primeiro album "The Wailing Wailers" ( pela Studio One também citada no post do Jackie), o The Wailers não conseguiu despontar como Bob esperava e em 1966, recem casado e preocupado em como iria manter os pimpolhos que em pouco tempo iriam cmeçar a brotar, Bob desistiu da música e pegou uma jangada rumo aos Estados Unidos. Enquanto ele dirigia
empilhadeiras no turno da noite de um armazem e carregava bandejas num restaurante de dia (calma, provavelmente ele ainda não tinha aquela peruca doida), na Jamaica o Movimento Rastafari ganhava força com a visita de Hailé Selassié a ilha
WTF? eu explico, segue o reciocinio...
O Rastas surgiram no início de século 20 como uma reação cultural a repressão branca e sua catequisação protestante, bom, o fato é que a Bíblia tem mais de mil páginas, já passou por sei la eu quantas traducoes e so o proprio Jesus sabe quanto daquilo ali é verdade ou é mentira ( desculpem se estou ofendendo alguem mas é fato, muitos reis, papas etc deram "toque pessoal" naquele texto) e um cara chamado Marcus Garvey acabou entendendo que a Biblia
anunciava que Jah (Deus) se revelaria de novo na figura de um rei negro que assumiria o trono da Africa, a terra mãe. Tá, num continente com mais de 50 paises, com uma instabilidade politica gritante, um dia um cara se encaixaria no tipo e esse cara foi Ras Tafari Makonnen (decepcionado? Eu tambem. Não sei se tem uma traducao mais maneirinha mas o nome vem daí) , que assumiu o trono da Etiopia ( pra reforçar a profecia, o único país da Africa que nunca
foi colonizado) em 1930 e apos a coroação, passou a se chamar Hailé Selassié.
Até ai os Rastas não passavam de uns pescadores, velhos, uns gatos pingados que tiveram um contato maior com Garvey, que morreu em 1940, mas quando Jah, em pessoa, visitou seus discipulos na Terra da Primaveira, até quem não sabia o que estava acontecendo entrou em frenesi e Bob, impressionado com as cartas estusiamadas de Rita, sua esposa, voltou correndo
pra ilha natal... ele também ja tinha percebido que suar sem prazer ou uma palheta entre os dedos não era bem a dele.
Não demorou muito Bob e Rita também se converteram ao Movimento Rastafari. Com os 700 dolares que trouxe dos Estados Unidos, Bob abriu uma loja de discos e pouco a pouco voltou a cantar e reassumiu a liderança dos The Wailers. A banda tocava por Kingston, por Londres ( onde ainda hoje há uma grande comunidade jamaicana) e parecia se aprimorar cada vez mais: gravou 4 discos entre 1970 e 1971, era uma bomba relogio prestes a explodir, só precisavam estar na hora e no lugar certo.
E essa hora chegou: em dezembro de 1971, em uma turne da banda por Londres, Bob entrou no escritorio da inovadora e renomada gravadora Island Records, era muita ousadia pra uma banda que tocava um bagulho irreconhecivel pra muita gente, mas como eu falei, por acaso Chris Blackwell, também jamaicano e dono da parada ali estava passando por ali, olhou pra aquele sejeito maltrapilho, fedorento, desligado e fechou contrato na hora.
Depois de umas ferias na Jamaica, desfrutando o adiantamento de 6 mil dolares de Chris o The Wailers comecou a se empenhar no novo album e logo perceberam, Bob não poderia ter conseguido algo melhor. O cache era alto, a liberdade era total e Chris era um cara brilhante, entendia do assunto e no final das contas se tornou essencial na evolução do som dos The Wailers: deu um tapa na pegada de Guitarra de Tosh, convenceu os caras da importancia de um back vocal bem feito, contratou um tecladista e fechou com o baixo sensacional de Aston Barret e uma capa bacaninha em formato de isqueiro Zippo. A critica ficou enbasbacada, quem
entendia aplaudiu de pé e daí até a famosa versão de "I Shoot the Sheriff" de Eric Clapton, em 1974, que espalhou de uma vez o Reggae pro mundo era só quastão de manter o nivel.
Acho que em relação as músicas nem cabe comentarios, cada um tem a sua preferida já segundo o próprio Bob:

"O reggae não é pra se ouvir é pra se sentir. Quem não o sente não o conhece."




Músicas:
1. Concrete Jungle
2. Slave Driver
3. "400 Years
4. Stop That Train
5. Baby We've Got A Date
6. Sir it Up
7. Kinky Reggae
8. No More Trouble
9. Midnight Ravers

15 de março de 2011

Jackie Mittoo - Keep On Dancing




Espécie: Ska

Data: 1948-1990

Natural de: Browns Town, Jamaica.

No cardume: Skatalites, Tommy McCook

Faz uns 3 meses, eu estava numa dessas noites de pescador azarado, gastando a pilha do controle e etc... e acabei assistindo "Broken Flowers" ( Dir: Jim Jarmusch) na Tv Cultura. Cinema é um mundo a parte pra mim: se na vida real eu custo pra realmente achar graça das situações nos filmes eu sempre consigo achar um ponto, um detalhe que me diverte durante todo o resto da sessão, foi assim com "Broken Flowers" mas eu admito, o filme é estranho.
Tá, depois eu faço um blog sobre cinema, mas por enquanto vamos voltar à música: depois que o filme acabou eu, como de costume, fui ver a trilha sonora na internet e com certeza, foi uma das redes mais fartas que eu já puxei. Partindo dela, eu conheci Mulatu Astatke, que tive o prazer de assistir este ano, no SESC Vila Mariana e o peixe que penduro aqui hoje: Jackie Mittoo, que me fez ver o reggae de uma forma completamente diferente , que me fez ser um pouco mais aberto e cuja a essencia ( Skatalites), depois de uma guerra intensa, eu pude aplaudir, maluco de extase, na Virada Cultural deste ano.

Jackie nasceu em 1948, em Brows Town, Jamaica. Incentivado por sua avô, Jackie - ou Donat , como consta na sua certidão- começou a tocar piano aos 5 anos e desde o início se destacava com um grande talento. Aos 13 anos, formou sua primeira banda: The Sheiks, e entre idas e voltas a capital Kingston, tentando gravar alguma coisa, conheceu o proprietário do famoso Studio One: Sir Clement ‘Coxone’ Dodd.

Coxone não deu muita importancia ao The Sheik, desde aquela epoca o cenario musical da Jamaica se contrasta gritantemente com o seu mercado - Bob que o diga- mas vendo o talento do muleque, convidou-o para assumir o piano em algumas sessões que organizava entre as gravações. Jackie acabou se destacando e passando cada vez mais tempo dentro dos estudios até que se tornou um dos membros base da famosa seção rítmica do Studio One, e naturalmente, entre uma mesa de rum e alguns ensaios, um calderão abençoado por Jah de "boogie woogie" e ritmos africano. em 1964 nasceu, totalmente arquitetado e estruturado por Jackie o The Skatalites, uma das bandas mais importantes na evolução da musica jamaicana, polvora do Ska, o primeiro ritmo genuinamente jamaicano. Nota: Jackie tinha apenas 16 anos.

Quando escolheram o nome, o The Skatalites era formado por Jackie (teclado), Johnny Moore (trompete) e Lloyd Knibbs (bateria) mas como o grupo não se contentou com a bagunça potencial de apenas 3 membros, não demorou para que Tommy McCook (saxofone), Lynn Taitt (guitarra), Don Drummond (tombone) e Lloyd Brevett, o doido oitentão do baixo que atualmente lidera o grupo, se juntassem. Desde de seu primeiro trabalho, Ska Authentic (1964) , de compacto em compacto - as músicas eram testadas semanalmente, na quinta eles gravavam, sexta de manhã elas eram prensadas em pequenos compactos de 7 polegadas, de cerca de 2 músicas por lado e a tarde já estavam arrebentando sound systems por toda Kingston, só depois de aprovadas elas eram gravadas definitivamente- o grupo surgiu como o orgulho da Jamaica e alcançavam um sucesso esdrondoso até que no auge da coisa toda, apenas um ano depois da formação, um escandalo separou o grupo: Don Drummond em um ataque de demencia assassina a mulher e é internado em um sanatorio.Resumindo um pouco e se atendo aos fatos, Don, frequentador assiduo de clinicas e sanatorios desde a adolescencia, não tinha nem seu próprio instrumento quando Coxone, notando seu talento, o convidou para gravar seus primeiros solos. As notas do cara pararam de errar pelos becos de Trenchtown, com o apoio de Jackie, seu amigo intimo e quem indescutivelmente o manteve lúcido durante todo aquele tempo, se juntou ao The Skatalites, ascendeu como lider, principal compositor do grupo e chegou a ser considerado um dos maiores trombonistas de seu tempo.
Com cada um pro seu lado, Jackie acaba send0 convidado por Coxone para o cargo de diretor musical do Studio One, e e entre o periodo de 1965 a 1969, produz bandas como "The Soul Brothers", "The Soul Vendors" e "The Sound Dimension" e grava nesse curto periodo obras-primas como Jackie Mittoo in London, de 1967, Evening Time, de 1968 e o disco pendurado aqui hoje: Keep On Dancing, composto só de solos, com um toque mais groove, bem leve, descontraido e bem-humorado foi gravado em 1969, um pouco antes do polemico suicídio de Don, ainda no sanatório, que fez Jackie abandonar de vez a ilha de Xaymaca, Terra das Primaveras.






Músicas:

1. Clean Up
2. Taste of Soul
3. This Scorcher
3. Water Hole
4. Blue Lue
5. Taste of Living
6. Juice Box
7. Keep On Dancing
8. Mellow Fellow
9. Can I Change My Mind?
10. Spring Time
11. Hang 'Em High
12. Lazy Bones
12. Hello Studio One






30 de janeiro de 2011

Da Lama ao Caos - Chico Science & Nação Zumbi


Eu me organizando, posso desorganizar e eu desorganizando, posso me organizar" (Da Lama ao Caos)

Espécie: Manguebeat
Data: Com Chico> 1991-1997 , sem Chico> 1997-

Natural de: Recife, Pernambuco, Brasil.

No Cardume: Mundo Livre S/A



Não digo que foi o primeiro, mas este foi o resultado de uma das minhas primeiras pescarias. Tudo começou quando minha madrinha me deu o dvd "Cassia Eller Acústico". Eu não sei como ela descobriu isso, na verdade ela sempre vem com uns papos, com uns presentes que acertam em cheio, sei la o fato é que eu gostava e ainda gosto muito da Cássia e com 10 anos de idade, nunca tendo visto ela cantando em vídeo, aquilo rodava semanalmente até alguem se irritar e tirar o aparelho, na época um trambolho, da tomada. Com o tempo, nos raros momentos em que eu pedia entrar na internet, eu decobri os rostos que eu via no video, o "Xis", o "Nando Reis" e o peixe que trago aqui hoje, e pelo qual tenho um grande apreço: "Chico Science & Nação Zumbi"



O disco "Da Lama ao Caos", o marco zero do descentralizado movimento Manguebeat, trouxe uma nova linguagem para a música em sua fusão entre o funk, o hip hop e o maracatu e é considerado um dos discos mais importantes da MPB.

A " Nação Zumbi" nasceu sob a sensibilidade do mestre Chico Science, que desde a década de 1980, vinha circulando entre as cenas hip hop e funk-rock de Recife e inclusive, bagunçando um pouco a coisa com a formação de bandas como Loustal. Mas foi só em 1990, quando Chico entrou em contato com grupo de samba-reggae olindense, Lamento Negro, que sua verdadeira contribuição para a música começou a ser pensada. Entre uma cena e outra, entre Loustal e Lamento, num impulso inevitavel ou não, Chico teve a sacada de como misturar tudo no que ele chamou de "Manguebeat" parindo, do cruzamento das duas bandas, os cavalos do movimento, a "Nação Zumbi", em 1991.

Em janeiro de 1994, formatando toda aquela bagunça que, desde sua formação, "Chico Science & Nação Zumbi" vinham causando entre São Paulo e Recife, "Da Lama ao Caos". O album, apesar de muito criticado por manter uma limpeza e uma uniformidade em gritante contraste com as apresentações ao vivo do Nação Zumbi, apresentou o Movimento Manguebeat para o grande público e definiu-o, com suas letras energicas e politizadas, como protestante desde seu início e hoje em dia, é um clássico.

O album é aberto de forma impecável por "Monólogo ao Pé do Ouvido", que pode ser considerado o manifesto do Manguebeat, dizendo : "modernizar o passado é uma evolução musical" justificando a forma, a fusão do hip hop e do funk com o antigo e tradicionalissimo maracatu e inaugurando o conteúdo, essencialmente politico e moral, diz :"o homem coletivo sente a necessidade de lutar. O album segue nesse tom, pessoalmente, justificando sua genialidade em : "Banditismo por uma Questão de Classe" que denuncia o banditismo como a sobrevivencia do pobre ante um sociedade desigual, dizendo:e quem era inocente já virou bandido, pra poder comer um pedaço de pão todo fodido. Em "Rios, Pontes & Overdrives", "Samba Makossa", "Antene-se" e "Côco Dub (Afrociberdelia)" que trazem todo o impressionante potencial ritmico e musical do Manguebeat e finalmente, para não haver mais duvidas, na faixa título do album "Da Lama ao Caos", da qual vos deixo um trecho:

-Ô Josué, eu nunca ví tamanha desgraça
Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça

Peguei um baláio, fui na feira roubar tomate e cebola
Ia passando uma véia, pegou a minha cenoura

-Aí minha véia, deixa a cenoura aqui
Com a barriga vazia não consigo dormir

E com o bucho mais cheio começei a pensar
Que eu me organizando posso desorganizar
Que eu desorganizando posso me organizar

( Da Lama ao Caos )


Sentiu?






Músicas:

1. Monologo Ao Pé Ado Ouvido
2. Banditismo Por Uma Questão de Classe
3. Rios, Pontes & Overdrives
4. A Cidade/Boa Noite Do Velho Faceta (Amor de Crianca)
5. A Praieira
6. Samba Makossa
7. Da Lama Ao Caos
8. Maracatu de Tiro Certeiro
9. Salustiano Song
10. Antene-Se
11. Risoflora
12. Lixo Do Mangue
13. Computadores Fazem Arte
14. Coco Dub (Afrociberdelia)