30 de setembro de 2010

The World Is a Ghetto - War

"Don't you know that it's true. That for me and for you : the world is a ghetto..."
(The World is a Ghetto)

"Voce não sabe que é verdade. Isso é pra mim e também pra você: o mundo, é um gueto..." (The World is a Ghetto)
Espécie: Funk-rock/Jazz Fusion
Data:1970-
Natural de: Los Angeles, Estados Unidos
No Cardume: Sly and The Family Stone
Esse peixe foi pescado por um amigo meu, Raul, numa conversa de peixeiros. Não é o que costumamos chamar de fresco, é bem passado mas não deixa de ser de primeira.
A cena do deslocado Rolls-Royce dourado, de pneu furado, sendo guinchado enquanto seu triste dono olha pra baixo ( e comicamente, se prestarmos atenção, prestes a ser roubado por um pirralho do bairro), totalmente em contraste com o fundo acinzentado porem vibrante e vivo de uma tarde normal, num gueto quaquer de L.A, enquanto a frase politica "The World is a Ghetto" varre o céu, não é o resumo e o cartão de visitas de um disco qualquer.

O War, surgiu quando o produtor Jerry Goldstein e Eric Burdon, lider da recem extinta The Animals ( entenderam a piada? Ah deixa pra la!), viram nada menos do que: Charles Miller (sax), Morris Dickerson (baixo), Howard Scott (guitarra), Harold Brown (bateria), Lonnie Jordan (piano e sintetizador), Lee Oskar (gaita) e Papa Dee ( percusão) atrás do famoso jogador de futebol americano, Deacon Jones (na frente = vocal) , numa casa de shows em North Hollywood, L.A.
"Nada menos", infelizmente, é só uma expressão. Apesar de ser um verdadeiro batalhão que já na epoca devia mandar muito bem, ninguem, fora Deacon Jones, era famoso, e o Nightshift (nome da banda) poderia ser facilmente confundido com qualquer outro brilhante grupo de músicos, que com a recente explosão demografica de L.A, impulsionada pelos talentosos latinos e afro-americanos, passaram, aos montes, a tentar a sorte na lúdica Hollywood dos anos 60.
Mas enfim, por destino, percepção ou mesmo, impulsão ( nunca, em nenhuma situação, devemos descar a possibilidade) de Eric e Jerry, Deacon Jones foi se concentrar no que fazia melhor, e Eric tomou a diantera do grupo, batizando-o de "Eric Burdon and War" e não demorando muito para lançar o primeiro disco, que claro, quem conhece o Eric, a historia do The Animals ou quem já o sacou só pelo nome com que ele batizou o grupo, já deve esperar, se chamou : "Eric Burdon Declares War", em 1970.

A banda fez bastante sucesso, recebeu boas criticas e, o melhor de tudo, Eric decidiu sair em 1971, o que deu a possibilidade de melhorar o nome do grupo: "War". "War", gerra à guerra, à violência urbana, ao racismo, ao dominio das gangues, à opressão policial aos imigrantes... "War", uma guerra em busca da paz, era isso que eles cantavam e cantaram, apesar do clima positivo e relaxante, em seu quinto disco ( terceiro sem Eric) , na minha opinião, empatado com seu antecessor, All Day Music, melhor disco da banda: "The World is a Ghetto", que hoje trago aqui.
Com jazz funkeado, com clara influencia latina e afro-sulista, exprime com perfeição, a angustia, a raiva e alegria de uma epoca dogmaticamente doida , de um cotidiano inimaginavel por sua complexidade e de uma luta eterna, por ser justa.
The World is a Ghetto é mais do que um disco, é um documento historico.







Músicas

1. The Cisco Kid
2. Where Was You At
3. City, Country, City
4. Four Cornered Room
5. The World is a Ghetto
6. Beetles in the Bog

15 de julho de 2010

Cavalo de Pau - Alceu Valença

"De puro éter assoprava o vento. Formando ondas pelo milharal. Teu pelo claro boneca dourada. Meu pelo escuro cavalo de pau..." (Cavalo de Pau)
"Nessas tardes molhadas de agosto.Sinto a chuva lavando minha alma. Sinto o frio entrando pelos ossos. Como uma coisa um troço, não sei explicar..."
(Lava Magoas)



Espécie: MPB/Nordestina
Data: 1946-
Natural de: São Bento do Una, Pernambuco, Brasil
No Cardume: Zé Ramalho, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Zé Geraldo e Belchior
Esse peixe foi pescado pelo meu pai, desconfiou que mais ou menos na minha idade. Convivi com ele durante toda minha trajetória de ouvinte passivo mas hoje se tornou também, como quase todo o resto do seu cardume, de meu gosto.

No encontro do agreste com o sertão, sob o sol onipresente de Pernambuco, brotou Alceu Paiva Valença, esse figuraça da musica nacional e internacional que tenho o prazer de apresentar aqui.
Desde menino, atônito em meio de repentes, poesia, Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga mais tarde, na adolescencia em Recife, completados com Dizzy Gillespie, rabecas,Little Richard, folguedos,Dalva de Oliveira e Orlando Silva, delirava nas festas, nos "arrasta pés" da pequena São Bento de Una, corria atrás dos cantores e violeiros andarilhos.
Com essa variedade de experiências e ritmos guiando seus pensamentos e sua brilhante capacidade de combinar diferentes estilos e sons (provada nessa obra, aqui apresentada), não demorou muito, conseguiu assimilar e cozinhar tudo com uma naturalidade espantosa, criando no final da decada de 60, depois de ter desistido de seguir a carreira em Direito, uma tremenda euforia no cenario musical de Recife.
Entre acertos e erros, inevitalvelmente, o pó do terreiro subiu e pode ser visto de longe, lhe rendendo em 71 (depois de ter bagunçado bastante), um convite pra vir morar no Rio de Janeiro, de seu amigo Geraldo Azevedo.
E foi ai que tudo começou...

Repleto de poesia, garra e ritmo, Cavalo de Pau deixou muito mais do que "corações em pedaços" quando, em 1982, logo após ter voltado do Festival de Montreux (Suiça), Alceu "o lançou num tiro certeiro", no meio da explosão do Rock Rural, do universo caipira e sertanejo, da ascendente, e talvez por isso, então chamada de "cultura de segunda categoria".
Cavalo de Pau, com uma mistura doida e desigual de efeitos do "Indie Rock", ritmos nordestinos (baião, coco, toada, maracatu, frevo), num ambiente pop que se tornaria não só de Alceu, mas marca registrada da música nordestina em geral e que daria novo folego e destaque à musica tradicional do nordeste, foi bem recebido pelo público e hoje é um cult clássico e expressão de toda uma geração de migrantes.








Músicas:

1.Rima com rima
2.Tropicana
3.Como dois animais
4.Pelas ruas que andei
5.Martelo alagoano
6.Lava mágoas
7.Cavalo de pau
8.Maracatú




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30 de maio de 2010

Unknown Pleasures - Joy Division




"Há 30 anos atrás o suicidio de Ian, jovem inteligente, sobrio e lider de uma das bandas mais promissoras da época chocou o mundo. Este post inaugural é antes de tudo uma homenagem a sua memoria, a sua alma e aos fãs que compartilham comigo o lamento de mais uma perda valiosa na música".

"We'll share a drink and step outside.An angry voice and one who cried.We'll give you everything and more. The strain's too much, can't take much more. Oh, I've walked on water, run through fire. can't seem to feel it anymore.
It was me, waiting for me, hoping for something more, me, see me in this time, hoping for something else..." (New Dawn Fades)

"Nós dividiremos uma bebida e iremos embora. Uma voz irada e outra que chora. Nós te daremos tudo e muito mais, a tensão é tanta, não se pode aguentar mais. Oh, eu caminhei sobre a água, corri através do fogo. parece que não consigo sentir mais.
Era eu, esperando por mim, esperançando por algo mais, eu, me veja nesta hora, esperançando por algo mais..." (New Dawn Fades)
Espécie: Pós-punk

Data: 1976-1980

Natural de: Manchester, Inglaterra

No cardume: New Order, Bauhaus, The Smiths, Interpol e The Cure

Esse peixe não é exatamente raro, é facilmente encontrado por outras peixarias da vida, mas resolvi inaugurar com ele nosso acervo primeiramente em lembrança a Ian Curtis, já que neste mes fez 30 anos de seu suicidio e em segundo lugar , apesar de não acreditar que teremos mais que alguns ganchos do nosso acervo dedicado à sua espécie, esse é um dos meus peixes preferidos. Falo de uma das mais originais, densas e decisivas bombas do rock inglês, ou com certeza, a mais breve.

Produto de uma mente lucidamente perdida, obscura, impressionantemente determinada e, para não entrarmos em maiores suposições, fico com a dica, “auto-rejeitada”, que era a de Ian Curtis, o Joy Division, tramado pelo próprio, por Peter Hook e Bernard Summer ( completado mais tarde com o baterista Stephen Morris) num show do Sex Pistols em 76, misturando segundo eles, Velvet Underground, The Doors, David Bowie e os proprios patronos, os Sex Pistols, chegaram a um som completamente original que antes de agradar ou desagradar, arrasa por todos os lados qualquer sujeito que, provado seu interesse por musica, fuçando muito, tenha conseguido chegar à esse texto.
A bateria aguda, persistente e determinante, a guitarra distorcida e limpa de Bernard (ouça e vai entender), os acabamentos timidos do sintetizador*, a voz distante, desesperadamente calma (mais uma vez, ouça e vai entender) e naturalmente sinistra de Ian, criaram, junto com a poesia afiada e bem trabalhada das letras, que geralmente abordavam : auto-isolamento, claustrofobia, depressão e instabilidade emocional, um som pesado, angustiante e único.
A pérola que trago aqui, foi lançado em 79, após o sucesso que o Joy teve ao ter algumas de suas músicas lançadas numa coletanea de praxe da gravadora ( a consagrada Factory). Foi muito bem recebido tanto pela crítica, quanto pelo público e, apesar de não ser muito justo usar o termo quando a coisa é decidida por par ou impar ( a banda tem apenas mais um disco, Closer), considero a obra-prima do Joy.

Então é basicamente isso ai, o Joy é uma banda que com certeza vale a pena ser pesquisada, tem umas paradas bem interessantes a respeito. Recomendo ouvir o disco quando estiver cansado, jogado numa poltrona, já no final da noite. Fui.
* introduzido depois de muita propaganda pelo lendario figuraça Martin Hannett ( Zero), produtor do grupo, mais perceptível no segundo disco, Closer, era talvez o prenuncio de quais seriam os proximos passos, "um som mais eletrônico pro Joy". Pelo menos, foi esse o caminho adotado pelo New Order, a banda que Peter, Bernard, Stephen e sua esposa, Gillian Gilbert formaram após o suicidio monstruoso de Ian em 18 de maio de 80, um dia antes do inicio da primeira turne internacional do quarteto, que decretou o fim do Joy.




Músicas:

1. Disorder
2. Day of the Lords
3. Candidate
4. Insight
5. New Dawn Fades
6. She’s Lost Control
7. Shadowplay
8. Wilderness
9. Interzone
10. I Remember Nothing

15 de maio de 2010

"A música pode ser o exemplo único do que poderia ter sido - se não tivesse havido a invenção da linguagem, a formação das palavras, a análise das ideias - a comunicação das almas."

(Marcel Proust)